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Parêntese para lusófonos - 13 ...As mãos da gente ...

Mãos de recém-nascido em reflexo preênsil apertam um dedo fino e manicurado ou de pele grossa num mesmo gesto, questão de sorte na atribuição da cuna.

Mãos que se estenderão de palma para baixo destinadas a mandar, de palmas para cima destinadas a pedir, duas faces do mesmo órgão, duas faces do destino, no entanto sempre se chamarão mão.

Mãos com linhas que definem vida e porvir, mãos instrumentos do carácter, tensas na agressividade ou no medo, firmes ferramentas no trabalho, envolventes no amor.

Mãos finas ou calejadas de mãe que num igual carinho afagam o filho preso ao seio, mãos descansadas ou sofridas que dispensam afecto, mais demoradamente as que mais vagar têm, mãos que outras tarefas não reclamam.

Mãos de meninos da praia ajudando nas redes ou no peixe, já gretadas pelo sal, dos meninos do campo já ressequidas pela gleba, dos meninos de bem com pele de bebé, mãos que já levam nelas a marca do seu destino.

Mãos que curam ou salvam, dispensando a energia generosa do seu poder.

Mãos meigas e respeitadoras que tanto no mando como na submissão são amor do próximo e de si mesmo.

Mãos brutais, instrumentos de maus-tratos, de arrogância, suficiência de auto-estima, mãos que não sabem pedir, mãos solitárias dos que não sabem dar amor, mãos de carrascos, mãos desprezíveis.

Mãos de sonhadores, de gestos lentos, com o calo da caneta ou dedos cujas pontas se adaptaram a um teclado, de presa firme em volta duma câmara fotográfica ou de filmar, borboletas virando as páginas dum livro ou simplesmente repousando em contemplação.

Mãos de trabalhadores em forma de ferramenta movendo se no automatismo do gesto milhares de vezes repetido, metrónomo do homem manual.

Mãos bem tratadas de quem vive de certezas e conquistas, sem pararem na hesitação dum instante, abrindo caminho sempre adiante como tanques em tempo de guerra.

Mão de unhas roídas até o sabugo dos que duvidam, auto-estima sempre em precário equilíbrio, vítimas potenciais.

Mãos que a vida vai marcando, magoadas, calejadas, cortadas, manicuradas, inteiras ou mutiladas, os dedos vão se tornando mais espessos, as articulações saliências de formas disparates, tais marcos dos anos que passam.

Mãos idosas repousando num merecido descanso, envolvendo um cajado como sonho de vida que já foi, lentas nas tarefas como para afastar a ceifeira que as espera, única companheira fiel da vida, para dar lhes o beijo final.

Mãos num gesto de preensão derradeiro nas do companheiro ou sobre o castão da bengala, fechando o circulo da vida.

Mãos que se unem num definitivo adeus, em religião ou sem ela, numa esperança de passagem para um mundo melhor ou sem ilusão de tal benesse.