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o simples ou o complicado?

Eu lido diretamente com muitos conflitos, que não matam com armas de última geração, mas conduzem as pessoas a uma morte mais "sutil", sofisticada e lenta. Cruel.

Somos assim, basicamente "possuídos" pelo o que um tal de Freud (muito antipático) denominou de Pulsão de Morte.

Repetimos sistematicamente determinados comportamentos e ações que nos fazem infelizes, choramos amargamente o que o "destino" nos põe à porta como uma cruz a ser carregada, e lá vamos firmes, vítimas.

A insatisfação constante do que eu não tenho, e o pior, também não busco ter. Lamentações sobre um IMPOSSÍVEL (esse é complicadíssimo), ou seja, eu queria ter algo que não está a meu alcance, que eu não vou ter, que não posso ter, mas eu quero.
Dá até vontade de rir, não?
Infelizmente, não é piada, ao contrário, é o tema recorrente da infelicidade, mais constante que se pode imaginar.

Outro dia, brinquei com uma paciente, e acho que o exemplo cai bem aqui:

-"Você quer um lindo vestido de festa, mas vai todos os dias ao açougue, ao sacolão, buscá-lo para comprar.
Lá não tem, lamento, no açougue tem carne, no sacolão tem frutas e legumes. E você chora, e você quer o vestido bonito."

Eis aí, algo que pode muito bem sinalizar a simplicidade e o complicado em nossas vidas, ou seja, se você quer o vestido de festa, pare de chorar, pare de buscá-lo em lugares onde não vai encontrá-lo, vá à loja, diretamente.
Ir ao açougue ou ao sacolão, é complicar, é o caminho mais direto e reto para a insatisfação e a infelicidade.

É um desfile diário de quem quer amar, mas só busca pessoas comprometidas, de quem quer descansar, mas só busca trabalhar mais, de quem quer viajar, mas tem medo de fazê-lo, de quem tem inveja ou busca modelos de vida inúteis e vazios.

Quem sabe, um dia? Vou sonhando, uma hora terei.

Enquanto isso, a vida se esvai, deixando para trás o que poderia ter sido.

Não é fácil, não é simples, criamos artefatos mil para nos boicotar a cada momento, em cada situação. Defesas poderosas para não sairmos do lugar. E saibam, tudo oriundo de modelos que passaram por nossas vidas, dos quais não sabemos nos desvencilhar. Uma luta, é todo o percurso de uma análise, a construção de novos modelos, a escuta do que pode ser uma armadilha e um boicote, vencer tudo isto, e ufaaaaaaaa........construir novos modelos, que talvez não sejam tão lindos aos olhos do mundo, mas são EXATAMENTE o nosso desejo.

Amanhã, o ano que vem, daqui a cinco anos, quando eu casar, quando eu tiver dinheiro, quando eu tiver coragem, eu vou ser feliz???

E olhem só a surpresa, ficar nesses lugares sem mexer a bunda, parece inacreditável, sem lógica alguma para todos nós.
Querem saber por que então ali permanecemos? Porque tem um GOZO (sim, um gozo),mortal, claro, que nos impede de avançar, de viver dentro dos nossos próprios modelos.
Quando se fala em gozo, pensamos apenas naquele produto do ato sexual, mas o gozo de permanecer em tais situações é imenso também. Caso contrário, o que nos impede? Pensem bem nisso.

Durante um estágio na Delegacia de Mulheres, fiquei conhecendo a estatística das mulheres, estupradas, violadas e maltratadas, que retornam aos seus algozes, mesmo afastadas, mesmo protegidas.

Inacreditável, o gozo no sofrimento também existe, e é muito mais presente do que pode supor a nossa vã filosofia.


Complicado, né?

Rita de Cássia Guimarães

2 comments

Rita Guimaraes said:

Fazer o que, né?
Beijos também.
11 years ago ( translate )

Rita Guimaraes said:

Melhor isto, ir levando e não deixar que nos levem, né?
;-))
Beijão.
11 years ago ( translate )