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AMOR DE RIVOTRIL
São dez da noite.
Minha filha dorme, reina o silêncio absoluto.

Hora de trabalhar minhas fotos, ler ou ver um filme, e depois ir dormir.

Um momento de paz, os dias têm sido difíceis, ela anda agitada, nervosa, chora muito, não aceita ninguém a seu lado.
Tem que tomar uma dose fortíssima de Rivotril para que relaxe, descanse, e deixe que todos durmam.

O ritual de sempre, passar em seu quarto, cobrí-la, dar um beijinho de boa noite.
Estou certa que ela não vai reclamar e abuso, dou um, dois, e mais alguns, umas amassadinhas, umas fungadas em seu cangote, puro caramelo da Nestlé.
Confio no remédio, ela não se sentirá invadida, não vai chorar.
Não é muito, mas é o que posso é o espaço que ela permite.

Há algumas noites, pensei estar sonhando ou delirando.
Percebo um sorriso em seus lábios, e não, não deliro, não estou sonhando. Ela agarra meus braços e não me deixa sair. Experimento beijar mais e ela sorri, mesmo dopada, mesmo incapaz de levantar a cabeça. Incrédula, resolvo testar e afasto-me um pouco de sua cama, mas ela me segura mais forte.

Não pode ser verdade, a dose do medicamento é uma porretada em qualquer um.
Tive vontade de rir, dar gargalhadas, deitar-me a seu lado, brincar, e esquecer-me das consequências.

Uma lição enorme, não posso amá-la quando quero, e são apenas estes, os momentos em que ela me concede seus carinhos. Não adianta, é assim que ela quer. É assim a sua linguagem.

Ainda choro, que vergonha!
Já se passaram tantos anos, e eu queria um pouquinho mais.
Um aprendizado que vai ficar pendente para o resto de minha vida.
Tal saber não existe.

Rita Guimaraes
18/10/2011

3 comments

Francis_Live said:

Muito bom!
11 years ago ( translate )

Rita Guimaraes said:

Obrigada, Francis.
11 years ago ( translate )

Rita Guimaraes said:

Obrigada, Alex.
Aceito e envio bisões também procê.
11 years ago ( translate )